dia desses na banca
12, dezembro, 2019.
Do dia eu não sei, da hora eu não lembro… havia acordado um pouco fora do horário comum, um tanto fora do eixo, sem despertador. Esparramei-me para o lado tentando tocá-la. Logo senti que me encontrava sozinho na cama.
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Oras deve ter tido um compromisso mais cedo no trabalho, pensei. Aquela chefe dela não era fácil.
Depois de minutos preguiçosos, talvez meia hora, de olhadas para o teto e movimentações solitárias resolvi que era hora de levantar, movido, confesso, acima de tudo, pela vontade de fumar. Fui ao banheiro, lavei o rosto e, na cozinha, busquei algo que caísse bem com o primeiro trago, estranhei a falta de rastros dela, mas numa modesta despretensão imaginei que o dia dela deveria estar pesado e, com isso, segui o meu. Preparei um clássico café preto, passado bem forte e amargo — não estava inspirado para pensar em outras opções — havia acabado de entregar uma grande campanha publicitária no dia anterior — e tudo que minha cabeça pedia era descanso… e um cigarro.
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Café pronto, só me faltava o tão desejado, àquele ponto já não me bastava apenas um para iniciar o dia. No escritório me inclino a pegar a carteira em cima da mesa. Pego-a com muito tesão e me vem à mente: preciso parar de fumar.
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Merda! Não acredito que mais essa acabou.
Abri as gavetas, arredei as coisas da mesa, investiguei quarto, banheiro, sondei cada canto deste caixote, e nada de uma maldita carteira.
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Bosta! Bravejei. Vou ter que sair!
Saí desleixado, o máximo que fiz foi colocar sapatos e agarrar uma jaqueta para enfrentar o sol frio de outono. Andei a passos rápidos e em pouco tempo cheguei a banca já com o dinheiro na mão;
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Bom dia Januário, me vê o de sempre.
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Opa bom dia! Tá na mão.
Januário era um belo símbolo das nossas relações hoje, não precisávamos de mais que esse breve papo para nos entendermos. Uma cordial saudação e direto ao assunto, tenho minhas carteiras em mãos.
Enfim, cigarro acesso…
Trago.
Inspiro lentamente. Sinto a satisfação em cada inflada do pulmão, em cada artéria se entupindo. Ô vicio estúpido, mas foda-se, que delícia! Termino o primeiro e já puxo o segundo, apenas por costume, nenhum cigarro será igual àquele hoje.
Continuo a caminhar pela rua, sabe Deus por qual motivo. Esbarro em um ponto de ônibus, desses com propaganda, e penso ela não deu nenhum sinal de vida hoje e puxo outro cigarro. Quando percebo já estou no último da carteira, que horas são? Como me distraí assim?!
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Amigo, tem horas?
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Cinco e vinte, amigo!
Compro mais dois maços para a noite e dia seguinte. Chamo um Uber, não fazia ideia donde estava e era melhor chegar rápido em casa, afinal não tínhamos trocado uma mensagem o dia todo.
Chego! Tudo escuro, investigo quarto, escritório, sondo cada canto deste caixote, e nada. Somente um espaço fantasmagórico. Vou, então, ao banheiro, tiro minha roupa e minhas máscaras, ligo o chuveiro e me fito no espelho.
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Quem sumiu antes? Eu ou ela?
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Porra de água fria. Não está fácil.